domingo, 15 de fevereiro de 2009

Malas

Cruzei a porta da rua com a mochila nas costas e a mala nas mãos. Saí caminhando pela calçada molhada da fina garoa que caia. Ajeitei o casaco. Nas mãos as luvas protegiam contra o frio cortante de inverno. Andava a passos calmos, sem saber direito para onde ir. Uma porta se abriu e la de dentro um cheiro delicioso de café tomou conta dos meus sentidos. Resolvi entrar e me sentei numa mesinha no canto, perto do balcão, em frente a janela. A garçonete, uma moça bonita, loira, sorridente , mas com um olhar triste veio me atender. Pedi um café, apenas. Ela se retirou, olhei pela janela e vi o vidro embaçado, meus pensamentos se distanciaram. Me lembrei de tudo que havia sofrido e as humilhações. Procurava imagens bonitas, mas elas não vinham. Fui desperta de meu devaneio, com um toque suave nos ombros. "Seu café vai esfriar". Era a garçonete de olhos tristes. Eu podia sentir a tristeza daquela mulher, e via o quanto era maior que a minha. Mas não podia voltar a me deixar dominar pelos sentimentos dos outros. Eu já tinha muita coisa por conta própria. Fiquei ali, saboreando o café, por um longo tempo. Pensando no que fazer e para onde ir. Estava sem rumo, sem destino, sem casa, sem nada. Mas justamente por não ter nada disso foi que sorri. Porque pela primeira vez eu me sentia eu mesma.

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